A paratradução das margens do texto na recepção, na Espanha, das obras francesas do século XIX
Muito se tem debatido sobre a conveniência de que o tradutor se faça visível na obra traduzida, e inúmeras opiniões têm sido expressas, ao longo da História da Tradução, tanto a favor quanto contra, a ponto de riscar sua presença no texto traduzido de «honte» (Aury, 1963), de «violence» (Hersant, 1995) ou de «ruse grossière». Mostraremos como o tradutor emerge nos textos que traduz, utilizando para isso das instâncias paratextuais (prólogos, prefácios e notas de pé de página). Analisaremos detalhadamente esses espaços de visibilidade do tradutor quem, pouco a pouco, «vai se apropriando» da obra, chegando inclusive ao ponto de «manipular» o texto original por meio da eliminação de algum elemento ou da incorporação de outros de sua própria autoria. Dessa forma, nosso interesse está centrado na constatação da presença do tradutor nos numerosos tratados e manuais franceses que foram traduzidos no século XIX, na Espanha, sobre assuntos tão variados como medicina, farmácia, educação, higiene, agronomia, entre outros. O conceito de «paratradução» e a abordagem paratradutiva da tradução nos leva, neste estudo, a refletir sobre “como os paratextos influenciam sobre a maneira na qual o novo público entende uma literatura traduzida”(Yuste Frías: 2015: 66).
Aury, D. (1963), Préface à Mounin, Georges, Les problèmes théoriques de la traduction, París, Gallimard, VIII-XII.
Yuste Frías, J. (2015), “Paratraducción: la traducción de los márgenes, al margen de la traducción”, D.E.L.T.A., 31-especial, pp.317-347.
Manuela Álvarez Jurado
é Catedrática de Tradução e Interpretação da Universidade de Córdoba - Espanha. Ao longo de sua extensa trajetória docente lecionou Língua e Literatura Francesa, Tradução turística, Tradução literária e Tradução Especializada de Textos Agro-alimentares e Biosanitários. Especialista em História da Tradução Especializada, Manuela Álvarez é autora de numerosas publicações em revistas e editoras de impacto. Sua recente monografia La visibilidad del traductor en los tratados de agricultura, agronomía, viticultura y vinificación (1773-1900), publicada pela editora Comares em 2022 foi resenhada para a revista Estudios de Traducción y Meta Journal des Traducteurs, dentre outras. Orientou inúmeras teses de doutorado de variadas temáticas e participou como palestrante convidada em um elevado número de congressos tanto nacionais quanto internacionais. Preside o Congresso Internacional TRADITUR (Traducción y Discurso Turístico) que em 2023 realizou sua terceira edição na Universidade de Córdoba - Espanha. No âmbito internacional, colabora assiduamente com as universidades de Sorbonne, Paris Cité e com o ISIT de Paris, nas quais realizou estadias docentes e de pesquisa. Pesquisadora principal de Projetos I+D internacionais e autônomos, é avaliadora externa para revistas de grande relevância nacionais, bem como internacionais, tais como Çédille, Tangence, Mutatis Mutandis e Onomázein, dentre outras.